Associação
quer criar "Linha SOS" para património imaterial em risco
Lusa14 Jan, 2014, 10:40
A Associação Portuguesa para a Salvaguarda do
Património Imaterial (PCI) defendeu hoje a criação de uma "linha SOS"
que permita alertar para as situações de bens culturais imateriais em risco e
que necessitem de medidas de salvaguarda urgentes.
Esta iniciativa será um dos assuntos que
vai estar em cima da mesa durante as primeiras "Jornadas para a
salvaguarda do património cultural imaterial do Norte" marcadas para
sábado, no Peso da Régua.
O antropólogo e presidente da
associação, Luís Marques, afirmou à agência Lusa que faz todo o sentido criar
uma "Linha SOS - Património Cultural Imaterial em Perigo" que permita
alertar para as situações mais graves que necessitem de medidas de salvaguarda
urgentes.
Esses riscos derivam, na sua opinião, da
permanência de "certas conceções ainda influentes na sociedade portuguesa
e que persistem em não reconhecer o seu valor identitário".
"Isto para além das adversas
condições socioeconómicas atuais, que levam por exemplo, à emigração, com o
despovoamento de boa parte das zonas do interior e o consequente
desaparecimento ou extinção de inestimáveis expressões culturais
imateriais", acrescentou.
Por sua vez, o investigador e professor
da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Alexandre Parafita,
afirmou à Lusa que, em toda a região Norte, se contam "aos milhares os
bens culturais a carecer de proteção e salvaguarda".
Para este especialista, "muitos
deles são merecedores de constar na lista de património imaterial classificado
pela UNESCO, tal como aconteceu com o fado e a dieta mediterrânica".
Alexandre Parafita destacou, como
exemplos, a Festa da Bugiada, em Sobrado (Valongo), o Auto de Floripes, no
concelho de Viana do Castelo, ou as celebrações da Semana Santa em Braga.
Outros bens "identitários na
região", mas que, na sua opinião, "não usufruem da mesma dinâmica
mediática", são os ritos solsticiais de inverno em Trás-os-Montes, como os
caretos de Podence, os rituais de máscaras de Bragança e Vinhais, ou as festas
dos rapazes de Torre de Dona Chama.
Contudo, para Alexandre Parafita há
"ainda que encarar o património cultural imaterial profundo, esse, sim, em
risco de extinção por força do desaparecimento dos seus intérpretes, `tesouros
vivos` como lhes chama a UNESCO".
O investigador referiu os cancioneiros
do Douro e Minho, a medicina e religiosidade popular ou os saberes tecnológicos
de artesãos, tanoeiros, construtores de barcos rabelos, cesteiros, moleiros.
"Infelizmente, quando se trata de
lançar mãos de bens culturais a classificar chegam-se sempre à frente os `lóbis
políticos`, na ânsia dos holofotes mediáticos, e que pouco ou nada se preocupam
com os riscos que corre o património imaterial profundo, que se extingue de ano
para ano com o desaparecimento dos seus intérpretes", sublinhou.
As jornadas, que decorrem no sábado,
visam precisamente, segundo a Associação PCI, "contribuir para promover a
salvaguarda e uma mais ampla perceção da riqueza e diversidade do património
cultural Imaterial da região norte".
Têm ainda como objetivo assinalar a
comemoração da década da aprovação pela UNESCO da Convenção para a Salvaguarda
do Património Cultural Imaterial (aprovada em 2003).
Confesso que desconhecia a existência desta
associação e destas Jornadas.
Mas, mais uma vez, o património da
Torre de Dona Chama parece ser reconhecido por todos, menos pelos principais
interessados, os torreenses…