quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O PATRIMÓNIO IMATERIAL DA TORRE DE DONA CHAMA É RECONHECIDO





Associação quer criar "Linha SOS" para património imaterial em risco
Lusa14 Jan, 2014, 10:40

A Associação Portuguesa para a Salvaguarda do Património Imaterial (PCI) defendeu hoje a criação de uma "linha SOS" que permita alertar para as situações de bens culturais imateriais em risco e que necessitem de medidas de salvaguarda urgentes.
Esta iniciativa será um dos assuntos que vai estar em cima da mesa durante as primeiras "Jornadas para a salvaguarda do património cultural imaterial do Norte" marcadas para sábado, no Peso da Régua.
O antropólogo e presidente da associação, Luís Marques, afirmou à agência Lusa que faz todo o sentido criar uma "Linha SOS - Património Cultural Imaterial em Perigo" que permita alertar para as situações mais graves que necessitem de medidas de salvaguarda urgentes.
Esses riscos derivam, na sua opinião, da permanência de "certas conceções ainda influentes na sociedade portuguesa e que persistem em não reconhecer o seu valor identitário".
"Isto para além das adversas condições socioeconómicas atuais, que levam por exemplo, à emigração, com o despovoamento de boa parte das zonas do interior e o consequente desaparecimento ou extinção de inestimáveis expressões culturais imateriais", acrescentou.
Por sua vez, o investigador e professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Alexandre Parafita, afirmou à Lusa que, em toda a região Norte, se contam "aos milhares os bens culturais a carecer de proteção e salvaguarda".
Para este especialista, "muitos deles são merecedores de constar na lista de património imaterial classificado pela UNESCO, tal como aconteceu com o fado e a dieta mediterrânica".
Alexandre Parafita destacou, como exemplos, a Festa da Bugiada, em Sobrado (Valongo), o Auto de Floripes, no concelho de Viana do Castelo, ou as celebrações da Semana Santa em Braga.
Outros bens "identitários na região", mas que, na sua opinião, "não usufruem da mesma dinâmica mediática", são os ritos solsticiais de inverno em Trás-os-Montes, como os caretos de Podence, os rituais de máscaras de Bragança e Vinhais, ou as festas dos rapazes de Torre de Dona Chama.
Contudo, para Alexandre Parafita há "ainda que encarar o património cultural imaterial profundo, esse, sim, em risco de extinção por força do desaparecimento dos seus intérpretes, `tesouros vivos` como lhes chama a UNESCO".
O investigador referiu os cancioneiros do Douro e Minho, a medicina e religiosidade popular ou os saberes tecnológicos de artesãos, tanoeiros, construtores de barcos rabelos, cesteiros, moleiros.
"Infelizmente, quando se trata de lançar mãos de bens culturais a classificar chegam-se sempre à frente os `lóbis políticos`, na ânsia dos holofotes mediáticos, e que pouco ou nada se preocupam com os riscos que corre o património imaterial profundo, que se extingue de ano para ano com o desaparecimento dos seus intérpretes", sublinhou.
As jornadas, que decorrem no sábado, visam precisamente, segundo a Associação PCI, "contribuir para promover a salvaguarda e uma mais ampla perceção da riqueza e diversidade do património cultural Imaterial da região norte".
Têm ainda como objetivo assinalar a comemoração da década da aprovação pela UNESCO da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial (aprovada em 2003).
Confesso que desconhecia a existência desta associação e destas Jornadas.

Mas, mais uma vez, o património da Torre de Dona Chama parece ser reconhecido por todos, menos pelos principais interessados, os torreenses…

domingo, 5 de janeiro de 2014

A TORRE DE DONA CHAMA ESTÁ MORTA!





Uma terra que não sabe preservar as suas tradições e a sua cultura, está morta ou, pelo menos, moribunda.
Uma terra que esqueceu a sua importância e que menospreza tudo o que os seus antepassados construíram já não vive, embora, porventura, se esforce por sobreviver.
A “Festa dos Caretos” mereceu, ao longo dos tempos, atenção de estudiosos e artistas sem qualquer particular ligação à Torre de Dona Chama.
Os estudos da austríaca Barbara Alge ou as performances e pinturas do artista João Vieira são exemplo da importância cultural e etnográfica reconhecida à “Festa dos Caretos”.
Ao invés, os de Torre de Dona Chama, ao longo dos últimos anos, têm negligenciado esse ancestral evento, reduzindo-o a uma noite de copos e manifestações carnavalescas de gosto duvidoso e a uma desajeitada procissão em que se disparam uns tiros para o ar e se incendeia um quadrado de esferovite.
Tudo sem qualquer rigor histórico ou sentido da tradição, sem que a maior parte das personagens participantes saiba, em rigor, o significado dos seus improvisados gestos.
E a culpa não é das várias comissões que, ao seu jeito, têm tentado manter a festa viva, fazendo o que podem e sabem.
O problema reside na completa ausência de agentes culturais que trabalhem, com seriedade e rigor, as tradições da terra.
O problema está na falta de comprometimento com a sua terra daqueles que a vida melhor apetrechou.
Quantos jovens licenciados a Torre de Dona Chama gerou?
Sendo muitos, porque permitem que esteja moribunda a única associação cultural existente na Torre de Dona Chama?
Porque não põem os seus diversificados saberes ao dispor de uma associação cultural digna desse nome?
O problema não é de dinheiro ou de falta de espaços.
Exemplo disso foi, há alguns anos, a forma como se desperdiçou o contributo de um conterrâneo que doou um grande conjunto de bombos, os quais, por não terem sido entregues a uma entidade responsável, foram, um a um, destruídos por aqueles que os deviam preservar.
O problema reside nos grupos e grupelhos que a vila de Torre de Dona Chama é fértil em gerar, provocando a desunião e a desmotivação de alguns que gostariam de contribuir para que a terra fosse minimamente activa culturalmente.
A cultura não se constrói com slogans ou com sarjas a servir de museus.
Os “caretos” morreram na Torre de Dona Chama!
A Torre poderia aprender com os exemplos de terras mais pequenas, como Podence, em que se soube trabalhar um produto cultural, em todas as suas vertentes.
Na Torre de Dona Chama prefere-se trazer para as suas festas as escolas de samba ou os freestyle’s que nada têm a ver com a cultura local e apenas a secundarizam.




O primeiro post deste blog reproduziu um poema de Augusto Gil que fala sobre o encanto do nome de Torre de Dona Chama.
É por aí que temos que ir.
A lendária moura “Dona Chama” é a melhor ideia que a Torre de Dona Chama pode promover.
A “Festa dos Caretos” deve cingir-se àquilo que sempre foi na sua essência: por um lado, a sátira social expressa no “deitar os jogos à praça”; por outro lado, a luta entre cristãos e mouros.
Mas deve ser trabalhada.
Nada se faz sem estudo e planeamento.
Estude-se o que mais há de tradicional na festa.
Planeie-se a execução dos tempos festivos e a “Festa dos Caretos” renascerá.
Há gente que vive na Torre de Dona Chama que gostava de contribuir para isso.
Muitos outros a vida levou-os para longe mas, nem por isso, desdenhariam também poder contribuir.
As redes sociais podem ser um veículo para algumas ideias germinarem e serem partilhadas entre todos.
Os torreenses, residentes ou não, têm o dever de ressuscitar a Torre de Dona Chama.

O futuro dirá se o querem fazer.